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O direito a brincar



O G. tem 10 anos. Está matriculado no 5º ano. Não tem trabalhos de casa. Porque a escola, tal como nós, não lhes reconhece valor acrescentado.

Depois da escola tem tempo para brincar. Às vezes na rua, outras em casa. Às vezes com amigos, outras com a irmã. Fazem construções. Inventam jogos. Brincam ao faz de conta. Vestem a pele de personagens. Mascaram-se e transformam-se. Lê livros escolhidos por ele. Escreve textos com a mãe porque, diz ele, assim é mais divertido. Toca guitarra. Inventa músicas. Dá concertos que se ouvem no prédio inteiro (sim, os nossos vizinhos são uns santos).

Se ele tivesse trabalhos de casa diários teria tempo para tudo isto? Estaria mais preparado para o futuro (seja lá o que isso for)? Seria mais feliz? Ou mais inteligente?

Nós acreditamos que não. Da mesma forma que acreditamos que brincar é um direito fundamental de todas as crianças. Um direito tão importante e tão valioso que, numa sociedade como a nossa, devia ser encarado como uma obrigação.



Como os horários dos pais são, muitas vezes, desajustados aos dos filhos e porque muitos professores continuam a acreditar que são os trabalhos de casa que fazem das crianças melhores alunos (mais uma vez, seja lá o que isso for), os miúdos passam demasiado tempo sentados, dentro de quatro paredes. Da escola saem para os Centros de Estudos e de lá para casa, o que faz com que haja pouco tempo para brincarem na rua. Já os pais, vivem numa correria casa-trabalho-casa, as atividades extra-curriculares dos miúdos ou as compras do supermercado. Sem tempo para parar, respirar ou descontrair. Também eles, sem tempo para deixar a natureza entrar.

Acreditamos que passar tempo na rua é uma necessidade básica. É (quase) tão importante como uma boa noite de sono ou uma alimentação equilibrada. Por isso, todos os dias tentamos ter tempo lá fora. Às vezes, são só uns minutos, outras umas horas. Mas tentamos que aconteça diariamente. Fazemos questão de aproveitar todas as oportunidades para usar as tabelas de basquete da cidade, explorar os parques municipais e infantis, jogar futebol com balizas improvisadas, percorrer as ciclovias de bicicleta ou de skate. No verão, adoramos ler à sombra das árvores ou pintar na relva do jardim.



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