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Da Figueira da Foz ao Porto em duas rodas | uma micro-aventura em família |

Etapa 2 - Da Praia de Quiaios a Mira



A noite foi fria e húmida. Acordámos com as tendas, as bicicletas e o atrelado tão molhados como se tivesse chovido. Não posso dizer que tenha sido um acordar fácil. Com os miúdos a queixarem-se de frio e sem infraestruturas no parque para um pequeno-almoço mais quente e reconfortante.

Desmontamos tudo, carregamos as bicicletas e o atrelado e esperamos pelo José Alberto para continuarmos a nossa aventura.


A segunda etapa, entre a Praia de Quiaios e Mira, foi longa e, para a M., muito desafiante. Fizemos os primeiros quilómetros pela estrada. Tentando sempre lembrar os miúdos da importância de seguir as regras de segurança e de terem atenção aos carros que circulam na nossa via. Percorremos ruas estreitas e cruzamentos abertos até entrarmos nos caminhos mais tranquilos. Confesso que respirei de alívio.


A pedra solta nos caminhos de terra e os buracos nos pedaços asfaltados tornaram a tarefa de manter a bicicleta em pé e a rolar mais difícil para a M. Com uma roda tão pequena, todos os buracos desestabilizam. Mas ela estava feliz por conseguir controlar a bicicleta tão bem e resistiu heroicamente ao cansaço dos quilómetros.



Na Floresta Atlântica há dunas gigantes que se estendem desde o mar, até ao caminho que percorremos. Lagoas imensas que nem sabíamos que existiam, repletas de aves marinhas. Parámos para ver a paisagem e aproveitamos a pausa para comer e descansar. A temperatura tinha aumentado bastante e havia pouca sombra, o que tornou o percurso um pouco mais difícil.



Almoçamos na Tocha e seguimos viagem em direção a Mira, por uma ciclovia paralela à estrada nacional. Quando entramos novamente na floresta, vimos uma placa que avisava: “Não passar. Ponte destruída”. Não nos apetecia nada voltar para trás, por isso, decidimos avançar para perceber se havia alternativa. A ponte estava em reconstrução e tinha apenas umas traves estreitas a ligar as duas margens. Era, efetivamente, impossível passar por lá.



Explorámos à volta e encontrámos um caminho de (muita) areia que nos levava até ao outro lado da ponte. Areia e bicicletas não é a parceria mais fantástica de sempre. Mas se a isto juntarmos um atrelado carregado, a coisa torna-se ainda mais complicada. Decidimos ir na mesma. Empurrámos as bicicletas e o atrelado pela areia, primeiro a descer e depois a subir. As crianças ajudaram, transportando as suas próprias bicicletas. Suámos as estopinhas, enchemos as sapatilhas de areia, mas conseguimos continuar o percurso.



Percorrer a Floresta Atlântica tem tanto de bonito como de desolador. A floresta foi muito afetada pelos fogos de 2017 e a área ardida, nesta zona, é muito impactante. Durante vários quilómetros, as árvores foram reduzidas a frágeis paus pretos, despidos e tristes. As placas com o nome das localidades continuam queimadas e semi-destruídas lembrando os momentos de horror que foram vividos naqueles dias.



Esta etapa foi longa e desgastante. Os miúdos portaram-se como heróis, lidando com o cansaço sem sequer pensarem em desistir. Pensei várias vezes que estávamos a exagerar. Fizemos mais de 45km, 30 dos quais, a M. fez na sua própria bicicleta, a pedalar sem se queixar. Confesso que a questão do cansaço e da resistência em relação ao G. não me assustava muito. Ele sempre foi muito ativo e está habituado, desde muito cedo, a percorrer grandes distâncias quer a pé, quer de bicicleta. Mas a M., pela sua idade e até personalidade, preocupava-me um bocadinho. Honestamente, não pensei que ela fosse tão resiliente e capaz de superar tamanho esforço. Muito menos me passou pela cabeça que ela fosse capaz de pedalar tantos quilómetros num só dia.



Chegámos ao parque de campismo já no fim do dia. A tempo de montar as tendas, fazer um jantar rápido, tomar um banho e relaxar. Todos nós adormecemos cedo, depois de prometermos aos miúdos que a etapa seguinte seria mais pequena.



O José Alberto despediu-se de nós e voltou para casa. A partir dali seríamos só os quatro. Agradecemos a sua generosidade e ficámos com a certeza de que sentiríamos a sua falta nas etapas seguintes.


O nosso dia

Etapa 2 - 18 set 2019

Distância - 45km

Dormida - Parque de Campismo de Mira

Distância acumulada - 60km

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