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Serra da Freita PR7 - Pelas escarpas da Mizarela

A estreia do Lego na montanha


Depois de umas semanas de interregno, voltamos à montanha. Na verdade, andávamos todos a precisar de sair da cidade, dos horários e dos compromissos. Andávamos com sede de natureza e já não conseguíamos ter mais um fim de semana igual aos outros.


Desta vez, fomos até à Serra da Freita, fazer uma parte do PR7 - Pelas escarpas da Mizarela. Um trilho lindo e desafiante, que se estende por uma das paisagens mais bonitas da serra. Como era a estreia do Lego na montanha, decidimos encurtar o percurso e, dos 8km que o trilho tem, fizemos apenas 4km.


Começamos na Ribeira da Castanheira, junto às piscinas naturais, com um piquenique ligeiro junto à água para ganhar forças para o que tínhamos pela frente. Dali até chegarmos quase às paredes de escalada de Cabaços o percurso faz-se maioritariamente a subir.

O trilho está classificado como difícil porque para além de o desnível ser acentuado, é exigente tecnicamente. São pedras sobre pedras, troncos caídos no trilho, muita vegetação alta. É preciso trepar bastante e tem algumas passagens mais expostas. Os miúdos estavam cheios de energia e avançavam rapidamente pelo percurso. Eu e o Pedro íamos alternando entre ir acompanhando os miúdos ou o Lego, que tentávamos manter um pouco mais atrás para controlar o esforço.

Sabíamos que não podíamos deixá-lo ir no chão por muito tempo seguido por ainda ser muito novo, mas ele só queria galgar terreno, trepar as rochas e avançar. Se o deixávamos aproximar dos miúdos, metia-se entre os seus pés, o que não era seguro para nenhum deles. Quando achávamos que era demasiado, pegávamos nele ao colo. Eram as únicas alturas em que se queixava. Gania e lambia-nos, ao mesmo tempo que se atirava para o chão.


Fazer trekking com crianças implica sempre um ritmo mais lento do que quando vamos só com adultos. Tem que haver tempo para parar, para brincar ou para aprender. O facto de estarmos sempre a subir, levantou a dúvida sobre a altitude a que estaríamos. Daí até falarmos sobre o conceito de altitude, sobre o nível do mar, sobre as montanhas, vales e planaltos, foi um saltinho de pardal. Tudo conceitos que ambos já conhecem, mas que ganham toda uma nova dimensão quando aplicados à prática.

O caminho continua a subir. Com pequenas descidas acentuadas em um ou outro ponto. Mais passagens expostas que obrigam a atenção redobrada e muita responsabilidade. Os miúdos sabem bem as regras da liberdade. Fazem o percurso com cuidado, avaliando o risco, e não se afastam demasiado. Fazem trekking desde sempre e conhecem bem os seus limites. E nós confiamos muito da sua capacidade de decisão e avaliação.


O G., à frente, avisa-nos que há uma passagem com correntes e que seria melhor dar apoio à M. Ele passa, seguro e confiante, e espera por nós do outro lado. Passa o Pedro de seguida, para ajudar a M. Eu vou atrás, com o Lego ao colo. Foi uma aventura! Os miúdos adoraram a experiência e já só pediam por mais correntes no percurso.

A cascata que encontramos logo a seguir foi o ponto perfeito para uma pequena paragem para água e mimo. Uma das partes mais recompensadoras destes momentos em montanha é a ausência de distrações do mundo da cidade. Aqui há tempo para conversar, para ouvir, para estar. É nas caminhadas em montanha que, muitas vezes, temos as conversas mais profundas. E eu não troco isso por nada.



Atravessamos a ponte de madeira e continuamos a subir. Mais pedras, mais paisagens deslumbrantes, mais desafios. Os miúdos corriam como se não soubessem o que é cansaço. Altamente motivados. Felizes, como ficam quando estamos nestes ambientes.



A chegada ao Filão de Quartzo, uma formação rochosa tão branca e fotogénica que convida à fotografia, ditou mais uma paragem para um snack. Os miúdos treparam rocha acima e o Lego quis ir atrás. Ali, no cimo da serra, começava a sentir-se o frio do fim do dia. Mas ninguém queria ir embora.



A partir deste momento, o percurso torna-se mais plano antes de começar a descer. Mas nem por isso se torna mais fácil. O desnível é grande e "destrepar", às vezes, é mais exigente do que trepar.



Começamos a aproximar-nos das paredes de escalada de Cabaços, onde o G. escalou em rocha pela primeira vez há 6 anos. E, numa altura em que os miúdos começavam a acusar cansaço pela primeira vez, isso deu-lhes a energia necessária para o trecho final do trilho.



Mais uma paragem nas paredes para um momento de nostalgia. Tivéssemos nós equipamento de escalada e já ninguém os tirava dali. Ainda bem que não tínhamos, porque o dia já ia longo e o frio já me entrava pelos ossinhos todos das pernas.



Nesta sua primeira experiência na montanha, o miúdo de 4 patas mostrou-se um explorador nato. Sempre cheio de energia, a seguir o trilho sem se desviar, a avaliar o percurso para perceber por onde era mais fácil subir. Por ele, tinha sido chão o caminho todo. Há-de chegar o tempo de o fazer.


Como dizem os miúdos, não podia ter-nos saído melhor cão na rifa. Um verdadeiro Lego, daqueles que encaixam na perfeição na nossa família.



Quando aos outros dois, foi mais uma prova superada. Uma experiência incrível num trilho realmente exigente. Capacidade de superação máxima. Excelente avaliação de risco e gestão de esforço. O dia terminou já muito perto do por do sol, junto ao miradouro da Frecha da Mizarela, com uma vista maravilhosa para a cascata.

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